Sandra - Olá, Marcus Baby! Nossa! Que responsabilidade! Tô tensa!!! Bom, é um privilégio mesmo entrevistá-lo e saber que estaremos juntos no Poema de Mil Compassos. Queria entrar um pouco no mundo mágico de M.B. Quero saber dos bonecos! Quando foi que teve esse “click” de imortalizar as celebridades através da sua arte? Barbie, Ken, Max Steel... Foi algum boneco que achou parecido com alguém? Conte-me tudo...rsrs Ah, só por curiosidade... Já fez o Will Smith????
Marcus Baby - Opa Sandra, tudo bom!!!Eu é que me sinto honrado de ser "sabatinado" por você e de também fazer parte desse lindo projeto que é o "Poemas de Mil Compassos"! Bom, vamos lá: Eu sempre fui o típico colecionador desde criança e adorava juntar cacarecos do tipo figurinhas, gibis, canetas, discos, CDs, fitas de VHS... Aí um belo dia assistindo um programa da MTV de entrevistas com roqueiros em sua própria casa (não me recordo se era o Frejat do Barão Vermelho ou o DJ Memê), ví o apresentador mostrar um dos cômodos do lugar REPLETO de BONECOS em prateleiras que tomavam todo o ambiente, tudo comprado durante suas viagens mundo a fora ou ganhos de presente! Cara, eu simplesmente pirei, enlouquecí, achei a coisa mais linda do mundo... Resolví nesse dia que faria uma coleção similar a dele, até me deparar com o primeiro impecílio: no Brasil não existia esses bonecos para vender, quando tinham eram absurdamente caros, e dificilmente encontraria os meus ídolos, dignos de ornamentarem A MINHA estante! Meses depois, após muitas pesquisas na internet e visitas a colecionadores, descobrí a arte dos CUSTOM DOLLS OOAK ("bonecos customizados One Of A Kind - 'um único de cada'" ), e já no ano de 2005, cheio de coragem e boa vontade, pedí e ganhei de um amigo meu dois bonecos (uma Barbie e um Ken) para customizá-los devagarinho no casal Baby Consuelo & Pepeu Gomes! Fui então aprendendo com meus erros, aprimorando técnicas, e sempre adquirindo outro novo boneco para criar um novo ídolo, ou - muito importante frizar - construindo determinado artista que funcionaria em determinado boneco (pois são eles que "pedem" para se transformarem nas celebridades que estão afim). Ainda não caiu em minhas mãos um Ken ideal para ser o Will Smith - que eu amo!
Sandra - E é você quem cuida pessoalmete de cada detalhe? Falo em relação ao corte e à pintura do cabelo, confecção das roupas...E qual foi o boneco que você teve mais trabalho em customizar e que levou mais tempo?
Marcus Baby - Sim, sou eu que cuido de tudo na execução de cada boneco, desde seu planejamento inicial com pesquisas visuais e de material até o ensaio fotográfico, tratamento e postagem no blog. A única coisa que não faço (porque não sei mesmo) é costurar! Algumas peças de roupa dos bonecos necessitam de linha e agulha, aí nesse momento eu recorro a minha mãe que é costureira profissional e me auxilia nessa parte. Mas eu fico alí encostado nela trabalhando, dizendo como quero, de que jeito deverá ficar a peça, reclamando da espessura da linha usada e elogiando o estilo de ponteamento, heheheheh... Coordeno mesmo! Tirando a eventual participação de minha mãe, eu sou o "Gepeto" que faz todo o resto!Quanto ao grau de dificuldade de cada boneco, isso é muito relativo: meses atrás falei numa entrevista de jornal que a customização mais demorada teria sido a do meu "Lenny Kravitz" que levou 3 anos para ser concluído. Porém, ontem eu percebí que o filhote mais demorado na data de hoje passou a ser a minha "Ivete Sangalo" que bateu todos os recordes: da fase inicial (escolha da boneca) até a conclusão final (a aplicação da última peça - seu microfone), passaram quase 4 anos! Até conto o fato no post dedicado a essa custom doll lá no meu blog. Já a boneca mais complicada de fazer, foi a minha "Globeleza". Aquela pintura de glitter em seu corpo foi intensamente estudada e testada em "cobaias" até a customização definitiva. Já a mais fácil de fazer, por incrível que pareça, foi a "Lady Kate". Na realidade cada um de meus bonecos (os concluídos e os em execução) tem histórias diferentes e exclusivas, quem convive comigo sabe disso, kkkkk...
Sandra - A princípio não houve investimento nenhum na divulgação da sua arte. Tudo começou a bombar na internet. Como foi isso? E hoje, de que forma você divulga seu trabalho? Você investe em exposições ou é, por enquanto, um hobby, uma coleção pessoal?
Marcus Baby - Eu sempre encaro essa minha arte como hobby e isso é o que me inspira para novos projetos, eu preciso pensar assim. Quando criei o blog "Bonecos Do Baby" foi apenas para saciar a curiosidade da galera que ouvia falar de mim e meus bonecos de tanto boca-a-boca dos amigos que frequentavam meu apartamento e no que dependesse de mim, teria terminado por aí. Só que, em novembro de 2008, no dia do meu aniversário, uma amiga que estava conosco em casa, fotografou minha coleção e enviou as fotos da boneca "Marina Elali" para a própria cantora que simplesmente pirou e ligou para mim em fração de minutos perguntando se poderia por as fotos em seu blog pessoal. Eu concordei, fiquei feliz, e pronto... até me deparar no dia seguinte com uma matéria de capa do site EGO (da Globo.com) com a notícia "Marina Elali vira boneca" ilustrada com as fotos da artista e da minha boneca tudo estampado em tamalho gigante... Cara, nem acreditei!!! A partir desse dia, o negócio bombou de um jeito inexplicável e graças a Deus não paro mais de dar entrevistas a TVs, jornais, revistas, sites. É artistas vibrando com suas réplicas, é fãs pipocando em todo planeta, é matéria surpresa em sites famosos, é convite para tudo que é lugar, presentes, toneladas de e-mails, agendas... Até Twitter tive que fazer com tanta novidade encarrilhada!Hoje eu tenho uma Manager (a Mary de Oliveira) que além de ser a tal amiga que enviou as fotos para Marina Elali, é também minha conselheira, confidente, babá, meu Demerol... Juntos estamos trabalhando no projeto "Bonecos Do Baby NA ESTRADA", uma expo-turnê que rodará o Brasil inteiro para apresentar a todos, os meus "filhotes". A grana ainda não apareceu na mesma proporção da fama, mas já temos alguns patrocinadores e se tudo der certo inciaremos o trampo no ano que vem. Porque "glamour" eu tenho... KKkkkkk
Sandra - Glamourosíssimo!!!! rsrsrsQuantos bonecos tem na sua coleção? Falo dos concluídos já. E qual foi aquele que, ao terminar, você olhou e disse: "Nossa! Dessa vez me superei!!" (não vale dizer todos...rsrsrs).
Marcus Baby - kkkkkkk... Ahhhh assim não vale... Brincadeira! Isso aconteceu quando dei por terminado o "Boy George". Esse eu confesso que me espantei quando conlcuí! Recebí até um e-mail de uma senhora - fã do cantor - que chorou por horas emocionada quando se deparou com a foto dele no meu blog! Na realidade procuro sempre customizar os bonecos "a minha moda" e sinceramente não me preocupo se eles vão ficar identicos ao artista e coisa e tal, nem penso nisso... Meu trabalho é mais inspirado no do fotógrafo Fernando Torquatto (que para mim, é um gênio). Ou seja: crio ilusões com minha arte para que a pessoa acredite piamente no que está vendo. Mas sobre semelhanças, também me assustei com a minha "Tina Turner" e a "Madonna Vogue". Porém o "Boy George" eu acho imbatível! Na exata data de hoje (27/07/2009) tenho 70 bonecos finalizados, fotografados e postados. Esse número muda muito rápido (em média de 5 a 7 dias) porque costumo trabalhar em 2 novos ao mesmo tempo e também estou sempre adiquirindo ou ganhando novidades para meu "almoxarifado". Esse número muda muito rápido, se você me fizer a mesma pergunta daqui a alguns dias, certamente ouvirá outra quantidade.
Andréia - Oi Marcus. Prazer em falar com você. Meu nome é Andréia de Oliveira de Salvador. Sou participante do livro " Poemas de Mil Compassos" e fiquei encantada com seu trabalho. Incrível a sua capacidade de transcender a padronização da contemporaneidade, realizando verdadeiras obras de artes com essas bonecas. Gostaria de fazer-lhe umas perguntas: Você desenvolve um trabalho artístico original, uma arte manual, que não se adéqua , digo em essência, aos padrões das artes midiáticas, embora trabalhe com elementos de glamour, a linguagem típico do meio das celebridades. A que você atribui o sucesso do seu trabalho, além é claro do seu talento?
Marcus Baby - Oi Andréia, prazer em te conhecer! Eu mesmo já me fiz essa pergunta várias vezes e acredito sinceramente que o sucesso instantâneo aos "Bonecos Do Baby" seja também pelo fato de, até então, não existir no Brasil ninguém que unisse esse tipo de arte a um bem elaborado trabalho de marketing. Seria demagogo de minha parte falar para você que foi apenas pura sorte ou que minha obra seja a oitava maravilha do mundo. Com certeza é algo diferente do habitual o que faço, mas não deixa de ser a tal da união do milenar ao contemporâneo somada a dose de modernidade. Óbvio que dedico grande parte do meu tempo nessa arte e na minha imagem mas nunca escondí de ninguém que utilizo todos os meios disponíveis para me divulgar e acredito bastante no que faço. A fórmula do sucesso está nas nossas caras, apenas fazemos o caminho mais difícil para chegar até ele. Eu optei por me unir a uma equipe de profissionais, para juntos chegarmos ao sucesso e usamos as téncicas mais modernas da nossa geração para agigantar uma arte milenar que poderia ter caído no esquecimento caso alguém não tivesse tomado uma iniciativa. Isso responde suas 2 primeiras perguntas, né?
Andréia - Você acredita que a incorporação de elementos da cultura pop a ofícios manuais milenares , alguns esquecidos nessa era da mecanização ,seja o único caminho para o resgate dessas artes?
Marcus Baby - Eu sou totalmente a favor da cultura pop, da modernidade e de todas as formas existentes que tragam a tona algo adormecido. Se for necessário utilizarmos sons, imagens, adaptações para que a literatura (ou o que quer que seja) volte a ser algo prazerosos e importante, que venham com força todas as Rede Globos e MTVs da vida! O que seria hoje de tanta arte se não fosse essas reinvenções pasteurizadas e muitas vezes distorcidas? Isso só força a galera a pesquisar se aquilo É ou NÃO É o que está sendo divulgado! Quer um exemplo maior do que a moda de "Maysa" no início desse ano devido a mini-série Global do Jayme Monjardim? Eu mesmo ví um Garí semi-analfabeto cantando todas as suas músicas e perguntando quando seria o show dela na nossa cidade... Trágico se não fosse cômico mas a meta foi cumprida: uma nova geração "descobriu" algo muito bom que estava esquecido em algum lugar do underground. E sumiria alí.
Andréia - Em se tratando de cultura de uma maneira geral, digo mais especificamente da literatura, desprezada pelo grande público , carente de incentivos estatais. Você acredita que a cultura pop, a partir do momento que prima pela forma, pela imagem, pela linguagem dinâmica seja uma grande desagregadora da literatura?
Marcus Baby - Acho que existem meios de promover a literatura se utilizando por exemplo da TV. Livros que ficam mofando nas livrarias, passam a vender horrores quando entram em horário nobre após a novela das 8, como aconteceu a pouco tempo com a adaptação de "Capitú" ou agora com a gostosa "Decamerão". Eu mesmo descobrí a obra de Monteiro Lobato graças ao "Sítio do Picapau Amarelo" que passava na televisão diariamente todas as tardes na minha infância. É muito gostoso ver a imagem da narrativa e esse meio instiga os curiosos a irem mais a fundo, procurar mais sobre, pesquisar, buscar... Soube a pouco tempo que a MTV está negociando com os Novos Baianos um "Acustico" com direito a CD e DVD. Já pensou que maravilha? Faço uma aposta com quem duvidar se em alguns dias após a exibição do programa, não vai ter uma mulecada de 12, 14 anos cantando a letra completa de "Preta Pretinha" ou "Brasil Pandeiro"...
Sandra - Que isso???? Ele é meu! Ele é meu! O Baby é meu!!!!!Estou arrasada! Lágrimas com rímel escorrem pelo meu rosto!!!! (brincadeirinha....rsrsrs)
Marcus Baby - Calma Sandra! Como diria a música dos "Tribalistas": "não sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também"... KKkkkkk! (Estou me sentindo no programa "Sem Censura"
Sandra - Estou mais calma...
Andréia - Creio que essa reeleitura televisiva das obras consagradas de grandes nomes da literatura é positiva desde que estimulem a leitura dos originais, senão toda luta em prol da difusão da literatura fica sem sentido. Concorda?
Marcus Baby - Claro que sim! E para gerar essa vontade, nada melhor do que ressucitar um grande clássico o reembalando na moderna visão do pop, tornando assim o “produto” mais atraente, você não acha? Eu sou a favor da recriação de uma obra literária na TV, desde que ela seja feita com qualidade primorosa, é óbvio. E isso é o mínimo que se possa esperar das grandes emissoras. Mas se for necessário convocar um Cauã Reymond ou uma Deborah Secco para estrelar um Romeu & Julieta televisivo com o intuito de estimular uma geração a ler o William Shakespeare original, alavancar o ipobe e catapultar as vendas do livro, que venha a massificação Global! É impossível nos dias de hoje não misturar as coisas para se chegar a qualquer objetivo, seja ele cultural ou de âmbito capitalista. E não tem vitrine melhor para se promover arte do que no horário nobre que vai do telejornal ao reality-show. Isso é uma realidade. Se hoje em dia, até os padres bonitões se utilizam de seu charme e música secular para arrebanhar novos devotos, é sinal de que tudo é válido!
Andréia - Ainda em se falando da reprodução televisiva de obras da literatura, você não concorda, que haveria um risco de distorção das idéias originais do autor, ou ainda a anulação da função reflexiva do livro? Digo isso porque a leitura é uma atividade cognitiva que estimula a reflexão, a análise, o pensamento, o dialogo consigo mesmo, já a linguagem televisiva pela própria dinâmica e apelo visual não favorece a construção do pensamento crítico, visto que sua função na maioria das vezes é o puro entretenimento.
Marcus Baby - Desde que se coloque a frase “Inspirado ou adaptado da obra de fulano de tal”, sinceramente não vejo problema algum. A parcela interessada de pessoas que vão procurar a fonte escrita após assistir a versão da TV, com certeza saberá distinguir o “pingado” do Capuccino. E o restante, infelizmente, não tem mais jeito. Leitura é um prazer que se adquire ainda pirralho no jardim de infância. Eu por exemplo conheço um adolescente que virou tiete dos textos de Chico Buarque de Hollanda após escutar “Deus Lhe Pague” interpretada em versão heavy-metal pela roqueira Pitty! Isso não é o máximo? Coisas desse tipo me certificam de que Carlos Drummond de Andrade caso ainda fosse vivo, seria hoje o melhor amigo do Gabriel O Pensador!
Andréia - Você é um artista do universo pop que promove uma interessante fusão entre o milenar e o contemporâneo . Correto? Como você enxerga essa tendência a fugacidade das artes no mundo atual, digo da era das “celebridades instantâneas “ . Como é possível para o artista sobreviver nessa era das informações rápidas e sucesso instantâneos?
Marcus Baby - Olha Andréia, essa é a atual e infeliz realidade do universo pop, que sucumbiu por inteiro nas facilidades tecnológicas e na pirataria cultural: estamos vivendo a era da urgência! Pelo que vejo (e acompanho o makin-of), não tem data para passar. Eu sinceramente acho que o artista, independente do seu rótulo, deve ampliar seus horizontes e fazer aquilo que todo brasileiro já sabe de berço: não desistir nunca. E já que é necessário sobreviver em meio a tanto lixo não-reciclável, temos mais é obrigação de ficarmos atentos aos imprecindíveis 15 minutos de fama, agarrá-los com unhas e dentes na menor chance! Se você for realmente bom naquilo que faz e esperto o suficiente para usufruir dos recursos disponíveis do mercado atual, basta apenas aproveitar uma única oportunidade para que sua arte seja reconhecida de forma gradativa e no sentido crescente, sem a necessidade de inconseqüentes explosões da moda. Afinal, nem todo mundo tem vocação para ser um eterno ex-Big Brother, né? (graças a Deus, kkkkk)A minha arte é um mix de idéias e elementos que resulta em símbolos do imaginário contemporâneo. Eu artesanalmente dou vida eterna aos ídolos usando e abusando de todos os artifícios pop a que tenho direito. Eu brinco de criar uma alegria lúdica nas pessoas, eu as deixo felizes. No fundo, não passo de um Basquiat branquelo, antenado e conectado ao tempo que pertenço...
Andréia - Ainda em se falando de programação televisiva, você não concorda que o nível da programação das emissoras comerciais é baissíximo sobretudo nas emissoras líderes de audiência que direciona produções como Capitu ou Maysa para os horários onde a audiência é tradicionalmente menor?
Marcus Baby - As grandes produções televisivas de clássicos da literatura mundial (salvo recriações infantis) seguem o horário permitido por uma lei que rege rigorosamente o que é e o que não é permitido (censura talvez) a diversas faixas etárias – inclusive com tradução simultânea na linguagem de libra, utilizada pelos surdos-mudos. Os maiores picos do ibope começam a despontar nos canais abertos a partir das 20 horas e segue até a madrugada (Por isso é que o “Programa do Jô” se mantém a 10 anos imbatível nunca iniciando antes das 00:30h). E, sinceramente, eu não gostaria que minha sobrinha ainda criança, acompanhasse a vida devassa da cantora Maysa ou a filosofia paranóica de Capitu na hora do jantar, hehehehe... Esse é o cuidado permanente das emissoras de TV de sinal aberto e eu sou de acordo. Agora, definitivamente não podemos generalizar e colocar no mesmo saco produções cuidadosas quase que cinematográficas de uma Rede Globo com as bizarrices de um SBT ou Rede TV (se bem que eu até gosto da “Supernanny” e do trash “Dr. Hollywood”)! Manterei sempre a mesma tese de que o telespectador tem o livre arbítrio de se interessar ou não com o que a TV aberta está oferecendo (aquela história da “embalagem” que falei anteriormente). E vamos combinar: canal fechado é chato pra caramba, repete o mesmo capítulo de uma mesma série desrespeitosamente várias vezes na mesma semana, sai do ar, limita o que há de melhor em taxas extras... e isso é porque a gente já paga (caro) para usufruir delas, imagina só! Das do formato pop “saudável” que eu gosto salvam-se poucas como o Futura, a MTV Brasil, HV1 e o Multishow (porque sou fã do Edgard Piccoli). No mais prefiro mesmo é assistir um DVD.
Andréia - Estando esses canais televisivos submetidos a lógica lucrativa do capitalismo haveria ainda assim espaço para a difusão da cultura por essa mídia?
Marcus Baby - Quanto a difusão da cultura em canais abertos, existe sim espaço e prova disso são as pérolas brasileira recriadas pela Globo como “Hoje É Dia De Maria”, “A Muralha”, “JK”, “Morte E Vida Severina” entre tantos outros. Até a extinta TV Manchete teve a audácia de gerar em forma de folhetim as histórias de “Xica Da Silva” e “Dona Beija”, conseguindo de alguma maneira promover algo da rica cultura brasileira para um público de maioria esmagadoramente popularesca, que vive mais preocupada com o preço da carne do que exatamente com a reforma ortográfica da lingua portuguesa. Como eu também faço parte desse universo empresarial capitalista, sei o quanto é complicado unir o lucro comercial com o interesse de expor algo culturalmente mais qualificado sem sofrer danos financeiros. Há boa vontade, boas idéias e empenho. Mas é fato que também há uma série de regras do sistema que transforma qualquer projeto do gênero desproporcionalmente inviável de se realizar. É algo cíclico e difícil de resolver quando se está dentro do meio mas fácil fácil na mão do telespectador com seu controle remoto.
Andréia - Trazendo o foco agora para os livros. Li na sua crônica do blog " Poemas de Mil Compassos " que você é um leitor assíduo dos mais diversos temas. Qual seria seu tema preferido? Quais autores você lê atualmente? Você fez referências também aos livros de auto-ajuda? É uma leitura que realmente lhe agrada? Esse não seria um segmento comercial de qualidade duvidosa?
Marcus Baby - Devido ao meu momento atual, ando completamente apaixonado por biografias, livros fotográficos (amo) e aquelas brochuras de tema único e generosamente ilustradas chamadas de “Almanaque” que voltou estiloso da década de 70 agora como moda de vanguarda. Estou lendo o indefectível Kid Vinil (“Almanaque Do Rock”), e uma coleção de entrevistas feitas pelo Zeca Camargo (“De A-ha a U2”). Encerrei a pouco tempo uma biografia não autorizada da Lucy O’Brien (“Madonna 50 Anos”) e estou para comprar o último do Moraes Moreira (“A História Dos Novos Bainos E Outros Versos”). Esta semana descobrí um livro fotográfico maravilhoso sobre Marilyn Monroe, “Images Of Marilyn” e um outro do gênero chamado “Mythology” (com desenhos do Alex Ross para a DC Comics) num sebo próximo de onde almoço, lindos, tamanho gigante e capa dura, que não sossegarei enquanto não comprar os dois. Nas férias pretendo ler Stephenie Meyer e sua saga “Crepúsculo”, “Lua Nova”, “Eclipse” e “Amanhecer” pois o meu dia de 24 horas é curto para quem só dorme 4 horas por noite, e eu prefiro saborear livros de romance ou ficção lentamente como quem toma vinho. E não tenho predileção específica por determinado tema. Apenas sigo sugestões e verifico se gosto ou não. Li sim Lair Ribeiro quando adolescente, ganhei um de seus livrinhos ensinando a ganhar dinheiro e achava tão interessante na época quanto hoje acho “O Segredo” da Rhonda Byrne. O que me interessa é preencher a minha necessidade de informação, sem vínculos com guetos ou rótulos. Só posso opinar depois que conheço o conteúdo. Sou pop e o que vier eu traço.
Andréia - E em relação a poesia. Como começou a sua experiência com a poesia? Você acredita ser essa arte de difícil acesso ao público? Qual o grande responsavel pelos desinteresse sobretudo nas escolas e faculdades pela poesia? Seria essa arte uma expressão muito lírica para o objetivismo dos dias atuais?
Marcus Baby - Para mim, a poesia é a necessidade vital de um seleto grupo de pessoas sensitivas e não há como forçar a barra para se gostar dessa forma de arte, porque o amor aos versos vem do DNA de cada um. Não tem como apontar culpados pelo desinteresse por algo que surge de dentro pra fora, que já existe nas entranhas de quem realmente aprecia. É íntimo. Eu descobri que gostava de poesia naquela inominável fase da vida em que a gente não é adulto suficiente para tomar atitudes infantis e nem é criança o suficiente para tomar atitudes adultas. Sofria por me achar diferente das pessoas a minha volta, e meu único refúgio era escrever num caderno rimas desordenadas tal como o sentimento que rasgava o meu coração. Aquilo era minha válvula de escape, uma catarse, até o dia em que percebi ser mais sensível que todo mundo e precisava me abster de algo paradoxal entre o onírico e o concreto. Foi aí que conheci os meus gênios da arte como Vinícius de Moraes, Florbela Espanca, Henry David Thoreau, Guilherme Isnard, Cazuza, Emily Dickinson, Arnaldo Antunes, Zédantas, Walt Whitman, Fausto Fawcett, Mário Quintana, Paulo Leminski, Waly Salomão e um monte de gente que amo de paixão. Porém, já homem feito, resolvi fechar para visitação esse meu lado poético e me dediquei – entre outras formas de expressão artística – a escrever crônicas urbanas para meus blogs e algumas coisas de encomenda para sites de teor GLBTS, ou, para qualquer um que quisesse ter um texto by Marcus Baby. Até chegar a conclusão de que internet é a “terra de ninguém” onde virou, mexeu, encontro muuuuita coisa minha solta na web copiada descaradamente sem os meus créditos... Mas tem nada não, Deus tá vendo, kkkkk...
Andréia - Quando me referir aos horários das programações de TV estava falando que a faixa de horário situada a partir das 23:00 h é mais acessível á parcela mais abastarda da população, que não precisa acordar às três da manhã e tomar duas ou três conduções lotadas até o trabalho. Mas já que falou da questão da faixa etária, você não concorda que determinadas produções como Big Brother ou certas novelas são inadequadas a formação intelectual e moral do público jovem? Pergunto isso , porque por mais se fale que é obrigação da família educar , não se pode negar que essa função hoje é compartilhada por outros meios . Quem tem o poder midiático, tem uma influência decisiva sobre a vida de uma sociedade, principalmente em se tratando das mensagens subliminares inseridas nas comerciais e na própria programação . Você concorda?
Marcus Baby - Eu acredito que a televisão, assim como outros meios de comunicação com grande poder de mídia (rádio, jornais, revistas, internet) não podem assumir o papel de educadores em sua totalidade, pois fica muito fácil jogar a responsabilidade em elementos inanimados que estão presentes por livre e espontânea vontade em nossas vidas e com a exclusiva função primordial de agregar opções de lazer. Se um grupo de pessoas os adotam como babás eletrônicas de uma geração em formação – o que eu acho erradíssimo - pode ter certeza de que a culpa do futuro transtorno não será de ninguém menos do que dos próprios (ir)responsáveis pelo ato. E ainda tem que entrar em consideração, o caráter do indivíduo que possa (ou não) ser bombardeado por programas de TVs inadequados, que independente de qualquer influência, poderá (por exemplo) causar um estrago dirigindo bêbado sem idade para carteira de habilitação ou faturar um extra hackeando contas particulares com spams criativos, e tudo isso com a alegação de que viu na novela ou simplesmente fez porque quis e pronto. Posso citar como exemplo real o fato d'eu ter crescido embalado na geração livre dos hippies, assistindo diariamente na TV durante a programação infantil, comerciais fantásticos de cigarros tipo Hollywood, Calton, Marlboro, tudo muito bem produzido e apesar disso eu nunca senti a menor vontade de por um cigarro na minha boca até hoje nos meus quase 40 anos de idade. Nunca fumei na minha vida, e não me faltou influências até mesmo dentro de casa. Em compensação, um sobrinho meu que é pré-adolescente com Q.I altíssimo, vida boa, ODEIA televisão (não assiste exatamente nada), e que é contra tudo considerado explicitamente popular, foi pego pelo pai (que é moderno, presente, atuante) na internet administrando um site de jogos piratas, com atalhos escondidos para links pornográficos e com o PC entupido de mp3 de Raps com apologia a violência, crime e drogas... Aí eu pergunto: aonde a televisão teve culpa nisso? Resumindo: quando o jovem do século XXI quer, até um simples aparelho de celular pode se transformar numa arma letal em suas mãos. Televisão para ele é apenas mais um acessório da sua inquieta vida precoce. Não é a toa que emissoras direcionadas como a MTV Brasil possui uma vinheta legal que ordena “desligue a televisão e vá ler um livro”. No meu tempo não tinha nada disso...
Andréia - Por mais que seja contra qualquer tipo de censura, assusta-me a libertinagem e a amoralidade dos dias atuais. Quando se afirma que a televisão é apenas um reflexo da ideologia presente na sociedade caímos em um ciclo vicioso e ficamos nos perguntando quem veio primeiro “o ovo” ou “a galinha” . Assim você não acredita que o artista de uma maneira geral e as pessoas da mídia devem ter uma espécie de compromisso ou responsabilidade social, ou essa conversa é apenas uma retórica das viúvas e viúvos do marxismo, totalmente incompatível com a realidade que vivemos?
Marcus Baby - Essa vou responder por mim: desde que me entendo por gente, sempre tive a lingua muito afiada, falava o que queria sem medir consequencias, soltava o verbo quando me sentia tolhido, discriminado, ou até mesmo quando seguro daquilo que necessitava expressar. Já fui Petista, já segurei bandeiras, já me metí em confusões, dava minha opinião mesmo consciente das retaliações que poderia sofrer. Eu era o porra-louca que nunca escondeu o orgulho de ser sincero e transparente a qualquer custo... PORÉM, depois que fiquei exposto na mídia, que passei a ser reconhecido nos locais e ganhei uma legião de fãs e tietes, PERCEBÍ que precisava até por questão de ética, manter o controle daquilo que poderia ou não expor para as pessoas ao meu redor pois cada palavra que eu digo agora, corre o risco de ser interpretada (ou modificada) de várias maneiras inesperadas a ponto de alterar a minha real intenção e d'eu ter de pagar por meus atos amanhã. Ou seja, virei um formador de opiniões. E, como toda figura pública que é massivamente cobrada pela sociedade, resolvi por segurança adotar a técnica mais indicada para todos aqueles que optaram por expor sua persona para o mundo (e pretendem durar no meio), que é o ato social da responsabilidade adquirida: o que eu faço o ou o que eu digo, será um eterno motivo de análise e provavelmente surtirá em réplicas positivas ou não, dependendo da forma como irei agir daqui por diante. Não é tarefa fácil para quem um dia já foi considerado o “desbocado de plantão”, mas asseguro também que até o presente momento está sendo algo gratificante, principalmente quando se tem consciência de sua índole e vê sendo moldado a sua frente pessoas que te adimiram e esperam muito de você. É assustador mas não deixa de ser uma espécie de amadurecimento forçado e necessário para sua sobrevivência futura. Acho que isso deveria ser lei para qualquer pessoa denominada como artista, porque cautela é o compromisso mais indicado para quem pretende manter longevidade nas sua carreira, ou na sua reputação. Maaaaaas, esse é o meu ponto de vista e só penso assim porque sou cosmocrata, ou seja, faço a minha parte para a melhora do todo. Espero que meus seguidores pensem assim também pois prefiro não ditar regras. Apenas dou a minha humilde opinião.
Andréia - Por fim, gostaria que falasse um pouco sobre as impressões subjetivas presentes em sua obra. Existe alguma mensagem específica que pretende passar ao público através de seus bonecos?
Marcus Baby - Nem em meus mais felizes sonhos poderia um dia imaginar que seria sinônimo de determinada expressão artistica no país ou de ser reverenciado por meus próprios ídolos que se transformaram em fãs da minha arte, e tudo isso num espaço de tempo absurdamente curto. Como nunca e em momento algum previ o que está acontecendo agora nesse momento comigo, continuo agindo como se tudo ainda fosse aquele meu tranquilo hobby despretencioso que só eu e as pessoas mais chegadas tinham acesso livre para adimirar. A minha intenção inconsciente é a do auto desafio que me proponho interruptamente até o momento em que concluo mais um projeto imaginário que ferve dentro de minha cabeça. Sou fascinado pela imagem tridimensional, amo o universo pop e todos os seus personagens únicos e reais, adoro mixar elementos díspares como o novo e o velho, o feio e o bonito, o bem e o mal, o ying e o yang... no final das contas, estou curtindo a idéia de ser o “Gepeto dos tempos modernos”, um título fashion-filosófico para quem literalmente brinca de ser Deus e dá a vida a algo que até então não existe... Já a minha intenção consciente, aquela que deposito em forma de mensagem subliminar em cada pequeno detalhe de cada “filhote” que ponho no mundo, vem de uma frase simples, beirando ao clichê batido, que até adoto como um mantra, sigo e divulgo com maior prazer: “eu quero, eu posso, eu consigo”. Mais verdadeiro não há e eu sou prova viva disso. Em suma, tudo - mas tudo mesmo - é possível.
Andréia - Gostaria de agradecer a oportunidade de conversar com você e pedir desculpas pela intromissão. Sucesso para você.
Marcus Baby - Eu é que agradeço a todos vocês, Elenilson (pela coragem e brilhantismo), Sandra Fuentes (pelo charme e doçura), Andréia de Oliveira (pela sagacidade e inteligência), e a todos aqueles que dispensaram seu precioso tempo em me pesquisar, analizar, dissecar... enfim, saber algo mais denso sobre minha pessoa e minha arte, além do que já existe por aí nos Googles da vida! Como diria os "gurús" do Planet Hemp, "eu continuo queimando tudo até a última ponta"... Valeu, obrigado e muita luz!
Para ver essa entrevista na comunidade do Orkut “Literatura Clandestina" do projeto "Poemas De Mil Compassos: Clique aqui!
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